A dengue continua sendo um grave problema de saúde pública no Brasil, com impactos que vão muito além dos sintomas clínicos. A doença impõe custos elevados à sociedade, tanto pelo número de hospitalizações quanto pelas perdas de produtividade causadas por mortes prematuras e afastamentos. Diante desse cenário, uma pesquisa publicada recentemente avaliou a viabilidade econômica da implantação do Método Wolbachia em sete grandes cidades brasileiras. Os resultados são expressivos: além de salvar vidas, o método pode gerar economia de recursos públicos. 

 

O que é o Método Wolbachia? 

O método consiste na liberação de mosquitos Aedes aegypti com a bactéria Wolbachia, que impede a transmissão dos vírus da dengue, chikungunya e Zika. Uma vez presentes na natureza, esses mosquitos transmitem a bactéria para as próximas gerações, diminuindo gradativamente a capacidade da população de Aedes transmitir doenças. 

A pesquisa avaliou a aplicação desse método em São Paulo, Fortaleza, Campo Grande, Goiânia, Belo Horizonte, Manaus e Niterói — cidades com diferentes realidades geográficas, sociais e epidemiológicas, mas todas com alto histórico de casos de dengue. 

 

Qual a pergunta que a pesquisa responde? 

A pesquisa quis saber: vale a pena, do ponto de vista econômico e de saúde pública, usar o Método Wolbachia para combater a dengue no Brasil? Em outras palavras, os benefícios de evitar a doença (menos pessoas doentes, menos internações e mortes) superam os custos de aplicar essa tecnologia em larga escala? 

 

Por que isso importa? 

A dengue é um problema de saúde que se repete todos os anos no Brasil. Além de causar sofrimento, a doença também gera gastos altos para o sistema de saúde e prejuízos para a economia, como afastamento do trabalho e perda de produtividade. Encontrar uma solução que reduza o número de casos e ainda ajude a economizar recursos públicos é fundamental para o país. 

 

O que diz a pesquisa? 

Pesquisadores avaliaram tanto os custos de aplicar o método quanto os custos que deixariam de existir com a redução dos casos de dengue: menos internações, menos mortes, menos afastamentos do trabalho. Ao todo, o estudo simulou os efeitos em 23 milhões de pessoas, ao longo de 20 anos. 

 

O que a pesquisa descobriu? 

Sem usar o Método Wolbachia, seriam esperados cerca de 1,76 milhão de casos de dengue nas cidades analisadas. 

Com a implementação da tecnologia, 1.295.566 pessoas deixariam de ficar doentes — uma redução média de 73% nos casos ao longo de duas décadas. 

Essa queda no número de infecções resultaria em uma grande economia. Para cada mil pessoas acompanhadas durante 20 anos, o estudo mostrou: 

  • R$ 2,69 milhões em economia total; 
  • 5,56 anos de vida saudáveis a mais, somando os casos que não evoluíram para complicações ou morte. 

Cidades com mais casos de dengue, como Goiânia, tiveram os melhores resultados. Lá, o Método Wolbachia poderia: 

  • evitar 9,51 anos de vida perdidos por mil pessoas; 
  • economizar R$ 5,85 milhões para cada mil habitantes. 

Mesmo em cidades com menos casos de dengue, como Manaus, ainda haveria ganho. O estudo projetou: 

  • economia de R$ 498 mil por mil pessoas; 
  • 0,46 ano de vida saudável preservado por mil habitantes. 

E mesmo se a gente considerar só os custos diretos com tratamento, sem contar perdas econômicas com afastamentos ou mortes, cinco das sete cidades ainda economizariam dinheiro com o método. As outras duas — Manaus e São Paulo — teriam um pequeno custo a mais, mas ainda com ganhos importantes para a saúde da população. 

 

O investimento compensa? 

Sim. A pesquisa calculou o quanto se ganha para cada real investido. O retorno médio foi de R$ 3,54 para cada R$ 1 gasto com a tecnologia. 

Esse retorno varia de cidade para cidade. Em Manaus, cada real investido renderia R$ 44,45 em benefícios. Em Goiânia, o retorno seria ainda maior: R$ 549,13 por habitante. Ou seja, quanto maior o problema com a dengue, maior o retorno ao investir na solução. 

Além disso, o método se mostrou vantajoso mesmo em cenários com: 

  • custos de implementação mais altos; 
  • períodos mais curtos (5 ou 10 anos, e não 20); 
  • cenários econômicos menos favoráveis. 

Mesmo nesses casos, a estratégia continuou sendo melhor do que continuar apenas com as ações convencionais de combate à dengue. 

Qual é a conclusão? 

O Método Wolbachia pode evitar milhões em gastos com saúde pública, salvar vidas e preservar anos de vida saudável para a população. A tecnologia é eficaz, segura e financeiramente vantajosa, especialmente em regiões com muitos casos de dengue. 

Os dados mostram que investir no método é melhor do que não fazer nada novo, e reforçam a importância de considerar essa tecnologia nas políticas públicas de combate à doença. 

 

A avaliação foi feita por pesquisadores da Universidade de Brasília, da Fiocruz e de instituições especializadas em Avaliação de Tecnologias em Saúde. O estudo foi financiado pela Wellcome Trust, fundação internacional voltada à pesquisa em saúde. A equipe inclui: Ivan Ricardo Zimmermann, Ricardo Ribeiro Alves Fernandes, Márcia Gisele Santos da Costa, Márcia Pinto e Henry Maia Peixoto. 

 

 

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