A dengue é considerada, pela Organização Mundial da Saúde (OMS), uma das dez maiores ameaças à saúde global e a doença viral transmitida por mosquitos que mais cresce no mundo. Nos últimos 50 anos, sua incidência aumentou 30 vezes, colocando mais da metade da população mundial em risco, com epidemias significativas registradas em países das Américas, Sudeste Asiático e Pacífico Ocidental. Estima-se que ocorram cerca de 390 milhões de infecções por dengue anualmente, das quais 100 milhões resultam em adoecimento e aproximadamente 40 mil em mortes. 

Causa e transmissão 

A dengue é causada por um vírus transmitido principalmente pela picada da fêmea do mosquito Aedes aegypti, vetor que se adapta bem a ambientes urbanos e se reproduz em pequenos recipientes com água parada. Após picar uma pessoa infectada, ele pode transmitir o vírus a outros indivíduos. Existem quatro sorotipos do vírus – DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4 –, que pertencem à família Flaviviridae. A infecção por um sorotipo é um fator de risco para desenvolver formas graves da doença em infecções subsequentes. 

Histórico no Brasil 

A primeira epidemia documentada ocorreu entre 1981 e 1982, em Boa Vista (RR), com os sorotipos 1 e 4. A partir de 1986, a dengue passou a se manifestar de forma endêmica no país, com picos epidêmicos frequentemente relacionados à introdução de novos sorotipos e mudanças no sorotipo predominante. O crescimento desordenado das cidades, a falta de saneamento básico e as condições climáticas favorecem a proliferação do mosquito. 

Sintomas e evolução da doença 

A dengue é uma doença febril aguda, sistêmica, dinâmica e debilitante, com sintomas que geralmente duram de dois a sete dias. Os sinais mais comuns são: 

Em alguns casos, podem ocorrer complicações graves, como sangramentos, choque e falência de órgãos. Todas as faixas etárias são igualmente suscetíveis à doença, porém pessoas com comorbidades, idosos, gestantes, lactentes e crianças pequenas estão mais vulneráveis a desenvolver complicações. A quase totalidade dos óbitos por dengue é evitável e depende, na maioria das vezes, da qualidade da assistência prestada e organização da rede de serviços de saúde.   

Classificação da Dengue 

Segundo a classificação revisada da OMS (2009), a doença pode ser categorizada em duas formas, dengue e dengue grave. A chamada dengue com sinais de alarme faz parte da forma dengue, mas é descrita separadamente por que seu conhecimento é de extrema importância para decidir condutas terapêuticas e prevenir – na medida do possível – a dengue grave.   

Diagnóstico 

O diagnóstico da dengue é predominantemente clínico. Exames laboratoriais podem ser utilizados como apoio: nos primeiros cinco dias, há técnicas para identificação do vírus, e a partir do sexto dia, pode-se pesquisar anticorpos. 

Tratamento 

Ainda não existe um tratamento específico para a dengue. O manejo baseia-se na reposição de líquidos, repouso e monitoramento dos sinais de alarme. É fundamental evitar a automedicação. Casos graves requerem internação e cuidados hospitalares intensivos. 

Prevenção 

As estratégias tradicionais de controle da dengue incluem a eliminação de criadouros e o uso de inseticidas. Medidas como uso de telas nas janelas, aplicação de repelentes, vedação de caixas d’água, limpeza de calhas e remoção de recipientes com água parada são fundamentais. Apesar dessas ações, a redução sustentada da população de mosquitos é um desafio e, muitas vezes, surtos ocorrem mesmo com esforços de controle. 

Duas abordagens importantes e complementares têm ganhado destaque na prevenção da dengue: o Método Wolbachia e a vacinação. 

O Método Wolbachia, desenvolvido pelo World Mosquito Program, consiste na liberação de mosquitos Aedes aegypti  com a bactéria Wolbachia, que impede a transmissão dos vírus da dengue, Zika, chikungunya e febre amarela urbana. Em vez de reduzir a população de mosquitos, essa técnica promove a substituição por uma população incapaz de transmitir os vírus. Estudos demonstram que, em comunidades com alta presença de Wolbachia, a incidência dessas doenças é significativamente reduzida. Por sua eficácia, o método foi incorporado às Diretrizes Nacionais para Prevenção e Controle das Arboviroses Urbanas do Ministério da Saúde como uma estratégia recomendada no enfrentamento às arboviroses. 

Já a vacina contra a dengue foi incorporada ao Sistema Único de Saúde (SUS) em dezembro de 2023, tornando o Brasil o primeiro país do mundo a oferecer o imunizante em seu sistema público de saúde. A vacinação teve início em fevereiro de 2024, com a distribuição inicial para 521 municípios.  

Essas duas estratégias – o Método Wolbachia e a vacinação – não se substituem, mas se complementam. Ambas integram um conjunto de medidas que reforçam a prevenção da dengue e de outras arboviroses, somando-se às ações tradicionais de controle vetorial e ao engajamento da população. 

É importante destacar que, uma vez instalada a epidemia, o impacto das ações de controle é limitado, devido à rápida circulação viral e alta densidade vetorial. Por isso, a adoção de medidas preventivas deve ocorrer fora do período sazonal da doença, envolvendo o poder público e a comunidade de forma integrada. 

Fonte:

World Mosquito Program – WMP 

Ministério da Saúde – MS

OPAS – Organização Pan-Americana da Saúde -OMS