A incidência de dengue em Campo Grande, capital de Mato Grosso do Sul, foi reduzida em 63,2% após a implantação em larga escala do Método Wolbachia. A constatação faz parte de um estudo recém-publicado na revista científica de impacto internacional The Lancet Regional Health – Americas, que avaliou os efeitos epidemiológicos da estratégia ao longo de mais de uma década.

O estudo demonstra a efetividade do Método Wolbachia no controle da dengue em um cenário real de política pública, mesmo em um contexto de alta transmissão da doença no Brasil. Até a Semana Epidemiológica 39 de 2025, o país já havia registrado mais de 1,5 milhão de casos prováveis de dengue e 1.657 óbitos. Nesse cenário, Campo Grande, cidade com cerca de 900 mil habitantes, se destacou como a única capital do Centro-Oeste com menos de mil casos prováveis em 2024, evidenciando o impacto positivo da intervenção.

As liberações de mosquitos Aedes aegypti com Wolbachia ocorreram de forma faseada entre dezembro de 2020 e dezembro de 2023, totalizando mais de 100 milhões de mosquitos liberados. Em 2024, após a conclusão das liberações, a Wolbachia estava presente, em média, em 86,4% da população local de mosquitos, com 89% das áreas monitoradas alcançando prevalência igual ou superior a 60%, patamar considerado estável para a proteção epidemiológica.

Os resultados analisam dados de dengue notificados entre 2008 e 2024, comparando períodos sem intervenção, áreas parcialmente tratadas e áreas com cobertura completa do método. A análise científica de longo prazo confirmou que apenas as áreas com estabelecimento estável da Wolbachia apresentaram redução estatisticamente significativa da dengue, marcando a etapa conclusiva da implantação do método no município.

Os principais impactos epidemiológicos observados foram:

Esses resultados reforçam a capacidade do Método Wolbachia de oferecer proteção sustentada e em larga escala contra a dengue em ambientes urbanos complexos. O projeto de Campo Grande representa a primeira implementação do método como estratégia oficial de controle da dengue apoiada pelo Governo Federal, sendo conduzido pela Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), em parceria com o Ministério da Saúde e o World Mosquito Program.

“É com grande satisfação que recebemos os resultados do impacto do Método Wolbachia em Campo Grande. Quando atuei como gestor, enfrentamos diversos desafios, mas, graças à parceria entre o WMP/Fiocruz, a Secretaria de Estado de Saúde de MS, a Secretaria Municipal de Saúde e vários outros parceiros locais, conseguimos cumprir o objetivo proposto. Hoje, ver esse trabalho se traduzir em resultados concretos para a população da minha terra natal — e em mais saúde para os campo-grandenses — é motivo de enorme orgulho para mim.” diz Antonio Brandão, gerente de produção da Wolbito do Brasil.

 

📌 O artigo científico está disponível em:
The impact of large-scale release of Wolbachia mosquitoes on dengue incidence in Campo Grande, Brazil: an ecological studyThe Lancet Regional Health – Americas